quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Em algum momento no futuro

Sinto uma presença estranha, como uma sombra esguia. Chama minha atenção e toma forma. De repente tomo consciência do frio. Um frio que sem aviso rouba o calor do meu corpo. Comendo os meus pés avança para minhas entranhas.

Os sons do mundo já não se fazem presente. Só o que ouço é meu coração, que bate como nunca senti, e sinto o medo como ninguém, que em algum momento ouvi.

Ainda estou vivo e por isso estou feliz. Contudo sou apenas outro tolo, pois agora ela me alcançou, finalmente, e me faz perceber o óbvio.

Estou cansado demais. Exausto, como nunca antes na vida, ou talvez seja dela (enigmática, inescrutável e cruel – porém preciosa) vida? Tudo o que sei que a exaustão agora é bom negócio.

Meus olhos estão pesados demais para ver. Talvez um breve descanso e tudo melhore.

Já não sinto meu corpo, apenas o sono chegando. Um sono profundo e frio, vindo de não sei onde. Tão profundo que sei que não irei sonhar.

Quando o momento chega, e os céus se enrolam, o medo vai dando lugar a um arrependimento de uma vida curta demais. E como se morrer não bastasse, a tristeza me cobre, e me faz companhia, pois com certeza sei que amanhã não irei acordar.

Trecho da peça de Ruggero Leoncavallo

(...)

Um homem vai ao médico
Diz que está deprimido
Diz que a vida é difícil e cruel.
Diz que se sente sozinho em um mundo ameaçador

O médico diz: "O tratamento é simples.
O grande palhaço Pagliacci está na cidade
Vai vê-lo
Isso deve anima-lo."


O homem cai lágrimas

Ele diz: "Mas doutor.... Eu sou Pagliacci."

(...)


Por que passamos tanto tempo das nossas vidas falando em códigos?

Por que fingimos não nos importar?

Por que passamos a vida fugindo do que no fim é o mais importante?

Será porque somos apenas crianças sonhadoras que vivem de sonhos?

Como seria um mundo onde falássemos tudo o que sentíssemos, sem medo?

Por que é tão difícil?

Por que tem que doer tanto?

Quero continuar sentindo

Eu quero achar graça das coisas

Eu quero ter objetivos

Não quero mais me sentir perdido

Por isso quero continuar sentido

Mesmo que seja apenas dor

Porque não quero voltar aonde estava antes

No vazio


A vida é um circo pra mim

Com hora marcada pra acabar

E o espetáculo é péssimo

Com raros momentos de alegria

Por isso quero continuar sentindo

Mesmo que seja apenas saudade

Mesmo que me faça mal

Eu quero continuar sentindo

Nem que seja em sonhos

Nem que não seja real

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Então por um instante pense, E se o mundo acabasse amanhã de manhã

E se o mundo acabasse amanhã de manhã?
O que você levaria dele?
E o que você não levaria?


O que você deixou de fazer pra depois de amanhã
e não pôde?
Pois amanhã cedo o mundo se acabou

E o que foi dito se disse
E o que não foi dito se perdeu
O que se fez está feito
O que não se fez morreu


Então por um instante pense

E se o mundo acabasse amanhã de manhã?
Nos primeiros raios do sol
nos primeiros bocejos
Nos primeiros desejos
Onde você gostaria de estar?
Perto de quem você queria estar?
No fim do mundo

Então por um instante pense

Em dizer tudo o que você sente
Pois na ausência das suas palavras
Há ausência do amor
Em todas suas complexas formas
O amor não viveu

E pra quê?
Se amanhã o mundo acaba logo cedo
E aqueles que você amou se foram
E aqueles que você odiou se foram
E aqueles que você nem conheceu se foram


Então por um instante pense
E se o mundo acabasse amanhã de manhã